Quintais e Usinas
O dia a dia de violações de direitos da produção de aço no Brasil
Em localidades de todo o país, comunidades próximas a atividades siderúrgicas denunciam a anuência de governos e órgãos ambientais à atuação corporativa ilegítima, antidemocrática e muitas vezes perversa. A poluição do ar é o foco da maioria das reportagens; é fácil captar em imagens a camada de pó sobre móveis, telhados, plantas e eletrodomésticos.
No entanto, vista de perto, a realidade dos impactos da indústria siderúrgica é bem mais complexa. Fazem parte dela as expropriações de bens comuns, como a terra e a água; as contaminações do solo e dos lençóis freáticos por produtos químicos cancerígenos; a falta de diálogo entre empresas e sociedade afetada; e, sobretudo, a persistência corporativa em não indenizar todas as vítimas nem se responsabilizar pelos impactos socioambientais.
Um trabalho de campo realizado pelo Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs) no entorno de quatro grandes portos exportadores evidencia um mapa inicial de conflitos socioambientais crônicos dos quais a produção de aço é protagonista. A equipe de pesquisa e jornalismo do Pacs esteve nas regiões portuárias de São Luís, no Maranhão; do Pecém, no Ceará; de Tubarão, no Espírito Santo; e de Itaguaí, no Rio de Janeiro.
Separadas por centenas ou milhares de quilômetros, as pessoas impactadas pela cadeia produtiva siderúrgica não se organizam nacionalmente entre si; a maioria sequer se conhece. As narrativas, no entanto, são semelhantes.
Elas revelam que os efeitos da implantação e da operação da indústria do aço nos mais variados territórios brasileiros comprometem diretamente modos de vida tradicionais, agravam desigualdades sociais históricas e multiplicam casos de direitos violados e não reparados.
Nos capítulos desta reportagem, você irá conhecer pessoas que vivem dentro de complexos industriais e cujos quintais vivem soterrados de pó de ferro; e cidades que, nascidas no entorno de usinas, naturalizam a poluição e possuem bairros onde sequer se pode plantar porque o solo é contaminado.
Vai também entrar em contato com a realidade de quem foi mão de obra escravizada em carvoarias que serviam à fabricação de ferro-gusa para a siderurgia; e de quem vive às margens de ferrovias da mineradora Vale S.A., cujo transporte de minério de ferro atropela modos de vida, seca fontes de água, racha paredes de casas.
Estas são narrativas duras, mas trazem em si a semente da mobilização popular. Nos cenários onde as populações afetadas alcançaram reparações, as vitórias foram e ainda são celebradas como mapas para o futuro.
As histórias afetadas pela siderurgia apontam questionamentos sobre o valor social do aço e estabelecem pontes entre populações afetadas por ele. De quanto aço precisamos para viver? Qual preço estamos dispostas e dispostos a pagar?
Conheça a pesquisa e os capítulos das reportagens aqui: