Militarização do cotidiano: um legado olímpico
Apresentação
Em entrevistas na televisão, em discursos de autoridades públicas, nas conversas cotidianas, passamos o ano ouvindo que o Rio enfrenta uma guerra. Homens armados, Exército, blindados, helicópteros. O espetáculo das imagens queria nos fazer acreditar que há um inimigo a ser vencido. Mas quando se olha para as vítimas dos fuzis, não é difícil notar que há na cidade, na verdade, um massacre de gente pobre, negra e favelada.
A tragédia das operações, dos tiros vitimando crianças em escolas, do fechamento de unidades de saúde, do aumento de assassinatos pela polícia militar expôs um cotidiano vivido há muito tanto tempo por favelas e demais comunidades no Rio: uma cidade completamente militarizada. A Olimpíada deixou o legado de um Estado falido, que sequer consegue pagar seus servidores, à frente de uma política difícil de ser qualificada como segurança pública.
O Instituto Pacs há anos denuncia a militarização no Haiti e suas relações com cidades como o Rio, marcada pelos megaeventos. Em 2017, o Pacs se propôs o desafio de contribuir no debate público crítico sobre o impacto da militarização na vida de moradores/as de territórios empobrecidos no Rio. Reportagens, entrevistas e artigos questionaram também quais as relações entre a militarização local e contextos globais mais amplos de territórios ocupados, como Haiti e Palestina, por exemplo.
Longe de querer esgotar o tema, esta publicação busca contribuir com a vocalização das resistências de comunidades, setores sociais e pessoas ameaçadas pela presença militar. É um grito em favor da desmilitarização do cotidiano, de mentes, da vida.