Instituto Pacs reúne mais de 50 mulheres no encontro virtual Mulheres Territórios de Luta
Para fortalecer laços, afetos, estratégias, cuidado e intercâmbios de experiência entre mulheres atingidas e em luta pela defesa de seus territórios, o Instituto Pacs realizou nos dias 15 e 16 de abril o Encontro Mulheres Territórios de Luta, com a participação de mais de 50 mulheres do Brasil e de outros territórios da América Latina e Caribe. O encontro também faz parte do plano de articulação de alianças regionais do projeto “Protagonismo da Sociedade Civil nas Políticas Macroeconômicas”, do Instituto em parceria com a Rede Jubileu Sul Brasil e Américas.
No primeiro dia de encontro virtual, além de se apresentarem umas às outras por uma divisão de grupos, as convidadas também fizeram uma reflexão coletiva sobre os principais desafios na luta pela defesa dos direitos humanos. Francisca Fernandes (C8M — Chile); Cris Faustino (Instituto Terramar e RBJA — CE) e Silvia Baptista (Teia de Solidariedade da Zona Oeste e Coletiva Popular de Mulheres da ZO — RJ) contaram um pouco de suas experiências em suas organizações e territórios. Dentre as questões levantadas, a perda de direitos e de acesso a serviços públicos no contexto da pandemia do Covid-19, a intensificação dos conflitos socioambientais criminalização e ataque institucional a organização política popular, a dimensão do corpo e cuidado e o protagonismo das mulheres na redução de impactos e defesa da vida na pandemia foram os principais pontos de partida para o encaminhamento do debate.
“Nós estamos sobrecarregadas, a nossa saúde mental está comprometida e tudo isso demonstra muito explicitamente que a democracia branca ela não nos representa, ela não é capaz de tomar medidas para nos proteger, para proteger o povo brasileiro”, pontuou Cris Faustino. Nesse contexto de luta e resistência das mulheres diante das faces das violações, Silvia Baptista destacou a importância de momentos de articulação como o Encontro Mulheres Territórios de Luta: “A gente precisa continuar construindo essa convergência continental contra o patriarcado, contra os racismos, contra o capital. Nosso compromisso é contra a fome, na relação entre campo e cidade! Precisamos exercitar o verbo esperançar, haja o que houver, doa a quem doer”.
Para tornar o encontro também um momento de respiro e trazer alguma leveza e acolhimento, Marília Felippe promoveu momentos de trabalho de corpo com as mulheres. Além disso, os intervalos também foram embalados por uma playlist organizada especialmente para o encontro e pelo painel com fotos e apresentações das convidadas.
No segundo momento do primeiro dia de encontro, Marina Praça, educadora popular e coordenadora do Instituto Pacs relembrou alguns processos fundamentais para essa caminhada coletiva das mulheres no enfrentamento aos megaprojetos, como a Militiva , Encontro Mulheres e Grandes Projetos no Maranhão em 2017, a Roda de Mulheres do Encontro da OCMAL — Observatório de Conflitos da Mineração na AL em 2018 e Encontro Formativo Mulheres e Megaprojetos e Encuentro Mujeres Defensoras em 2019.
Foi feita também uma rodada de compartilhamento de experiências de trabalho com as mulheres participantes no campo de denúncias a esses megaempreendimentos, com o objetivo de entender as construções fomentadas nesses processos coletivos entre organizações e o que ainda pode ser fruto dessa articulação entre elas. Ana Laíde (Xingu Vivo); Simone Lourenço e Aulete Almeida (Fórum Suape); Fafi Vega (OLCA e Red Latinoamericana de Mujeres Defensoras de Derechos Sociales y Ambientales); Larissa Santos (Justiça nos Trilhos); Mirtha Villanueva (Grufides) e Maria Regina de Paulo (Mulheres contra Ternium) falaram um pouco sobre esses processos.
Ana Laíde, que desde 2008 atua em Altamira contra a hidrelétrica de Belo Monte, destacou a importância da defesa do meio ambiente: “De 2017 ao ano de 2020, foram mais de 20 mil campos de futebol de desmatamento. Eu sei que é muito recente a discussão dessa questão ambiental, mas ela é importantíssima não só nesse momento de coronavírus, porque a barreira sanitária é a floresta em pé, é o rio correndo livre. E quando isso é rompido, quando esse portal é destruído, acabou. Por isso eu digo que não é apenas uma luta de massa que vai resolver os problemas da sociedade, temos que ecologizar os nossos pensamentos, vai muito mais além. Manter essa barreira conservada, com as populações fazendo isso, é fundamental.”
Maria Regina, que luta contra as violações causadas pela Ternium, maior siderúrgica da América Latina, instalada em Santa Cruz (RJ), contou como o empreendimento trouxe prejuízos para as populações locais e como as mulheres do território têm sobrevivido numa luta diária: “A Ternium trouxe muito prejuízo para a nossa localidade, trouxe enchentes, deu prejuízo para os pescadores, os rios estão contaminados, a terra está contaminada. Viemos travando uma luta para que o mundo soubesse o que estava acontecendo em Santa Cruz. Para nós, é uma luta diária para colocar a boca no mundo e mostrar que o problema é causado por eles! Mesmo com perdas no caminho, seguimos em luta!”
Para encerrar o primeiro dia, Camila Rocha, professora de dança e preparação corporal coordenou o momento “Dançando entre telas”, mais uma oficina de corpo para energização e relaxamento, que também promoveu descontração e interação entre as mulheres.
No dia 16, Marília Felippe abriu o encontro com muita mística, trabalhando com as mulheres movimentos de dança e atividades de relaxamento guiados, com o objetivo de incentivar a prática da relação do corpo com a mente e o universo. Também na abertura, foi feito um resgate do encontro do dia anterior, para relembrar os pontos debatidos e dar continuidade aos trabalhos.
As mulheres foram divididas em grupos para definirem coletivamente como essa articulação entre elas pode potencializar os trabalhos já em curso dentro de seus territórios. Partindo das reflexões de cada companheira sobre seu trabalho e as ações de suas organizações, foram definidos eixos de atuação prioritários, com o objetivo de construir caminhos a curto e médio prazo, para avançar no simples e possível de ser realizado.
Por fim, foram criados 3 grupos de trabalho com base nos pontos discutidos: “Terra, água e alimento”, “Aliança conservadora-neoliberal” e “Violência contra mulheres e meninas”.
Encerrando com chave de ouro o Encontro Mulheres Territórios de Luta, Luciana Mello (MAM) coordenou uma Cultural, momento dedicado para que as mulheres pudessem trazer poesias, música ou outras formas de arte, com muita troca de afetos e energias.