Elegia ao extraordinário companheiro Manoel da Conceição
18/08/2021
Querido Manoel,
Você escolheu hoje para fazer sua Grande Passagem! Minhas lágrimas estão retidas pela sua alegria de viver, que você cultivou durante toda a sua vida. Também, pela percepção de que você apenas mudou de roupa, deixando de lado este seu corpo, velho e tão sofrido, para vestir-se de estrela e ser recebido com festa no Reino da Luz!
Foi em 1968, na rua Franco da Rocha, em Perdizes, que nos vimos pela primeira vez. Acolhi você para que fizesse os exames médicos, depois da pavorosa experiência da repressão sangrenta dos esbirros do Sarney. De lá para cá estivemos unidos, independente de espaço e tempo. Nossa militância não era fria e cerebral, e sim plena de amor-amigo (filia). A paixão pelo nosso sonho de um Brasil e uma humanidade solidárixs alimentava de coragem e desapego os nossos passos. Como foi importante sua participação da direção nacional da ap! E quanta vibração nos animou na campanha pela sua libertação, manifesta na marcha frente à Casa Branca, na capital do império.
Em Genebra, nosso querido Zé Barbosa e Gisèle acolheram você, chegado do Brasil ensanguentado, agora com Denise e Mariana! Precisamos nos apressar e fazer o registro da memória de vida da Denise! Ela tem sido sua bravíssima e amadíssima companheira de vida. Em Bruxelas, nós três ajudamos a elaborar ideias para a recriação da CUT e a criação do Partido dxs Trabalhadorxs! E quantas falas você fez em sindicatos e igrejas, inclusive no Conselho Mundial de Igrejas, com a modesta ajuda deste seu irmão para as traduções. E no Encontro que criou a Rede Brasileira de Economia Solidária, em Mendes no ano 2000, você me mirou com seus olhos sorridentes e exclamou: “A Economia Solidária… é a revolução!”
Não tenho palavras para expressar minha alegria sempre que fui a Imperatriz para colaborar com a luta do povo camponês, você como vibrante animador. O amor fraterno que me une a você, se estende a sua brava Denise e aos seus filhos Manoelzinho e Mariana. Minha última visita a Imperatriz foi para celebrar suas oito décadas de vida nesta Terra. Inspirado em Neruda, li pra você estes versos:
Manoel,
guerreiro da Paz com Justiça,
pioneiro da Solidariedade.
Você levantou alta a tocha
Da consciência,
Da dor convertida em resistência,
Da congruência
Em dar vida
Ao sonho da Liberdade
O velho sistema pode esmagar as flores
Com suas botas cardadas de ferro, pólvora e dores,
E cobrir a terra com seu frio hibernal.
Mas não pode jamais
Conter a Primavera!
Querido Manoel,
Você foi um exemplo do guerreiro da Vida e da Luz!
Naqueles dias, você canalizou a sabedoria da própria Vida, dizendo: “A terra é para servir à vida. A terra compartilhada é a base de uma sociedade humana e fraterna.”
Fique certo de que, em nós que ficamos, continua viva a luta por uma reforma agrária popular, que vai mudar o destino do nosso Brasil! Pois, como bem diz nosso amigo Euclides, você continua vivo em nós que continuamos a tecer aqui na Terra seus sonhos transcendentais!!!
Por um Brasil justo e abundante para todxs, pretxs, índixs, caboclos, caiçaras, migrantes, mulheres de todas as cores e, no seu devido lugar, homens brancos também, todxs gritando unidxs o grito da inclusão:
POR UM POVO DESPERTO E CONSCIENTE, SEM MEDO DE SER FELIZ!
Do seu mano eterno,
Marcos